sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A árvore da minha calçada


A Prefeitura
Veio
E naquela aventura
De que tudo conserva
E arruma,
Cortou,
Com desenvoltura,
Sem graça nenhuma,
A árvore que eu plantei,
Ao meio.

Porque foi e não foi,
Não sei
O porquê do leguleio.

Desfez
O que eu fiz,

Que é como quem diz,
Há mais de quarenta anos!

E não se vá pensar
Que cometeu enganos!
Era o que faltava!
Fora assim
E não viria
À frente de mim,
Como agora o fazia,
E arrancava
A árvore logo pela raiz!

Não contente,
Pintou e bordou,
(assim se fala
E assim se diz
E quem diz e fala,
Não se cala).
Arrancou
E desrespeitou
Todo o meu esforço!
-Não faça isso, seu moço!
-gritei e disse
Antes que se consumisse
Todo aquele vil esforço.

E, para que todos notassem,
Quando pela rua passassem,
A força do poder e da vontade,
Esgalharam tudo,
Tudo, tudo,
De verdade,
- a árvore arrancada
E a minha alma estraçalhada
E eu perplexo e mudo!

No arremate presunçoso
Do mal feito por bem fazer,
Enjaularam o pequeno rebento
Da planta,
Frágil e muda,
(Isso é que espanta!)
Árvore que será um dia
Se um dia o haverá de ser,
Numa tela de arame,
Uma gaiola ao vento
Onde tudo pode acontecer,
Com o gosto do mau gosto ali gravado,
num letreiro infame,
Com sabor de pecado:
-conservando a natureza!

Com franqueza,
Confesso,
ao leitor que me leu:
-Meu Deus do Céu,
Desconheço
Igual epitáfio
Escrito com tanta vileza!

S.Paulo, madrugada de 29 de Novembro.
Vasco dos santos

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