sexta-feira, 25 de maio de 2007

A TULIPA CAÍDA NO CAMINHO

A Tulipa caída no caminho


São três os cruzamentos
Estampados na tela.
São três as cruzes
Erguidas no caminho.

No céu tem muita estrela.
........

Caída, na estrada,
Só tem ela,
-a Tulipa empoeirada.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

SERRA DE PETRÓPOLIS

SERRA DE PETRÓPOLIS


Aqui,
a terra acaba
E o céu começa.

E a serra,
Logo ali,
Que nos céus tropeça,
É a corda tensa
Da alma suspensa,
Alcandorada,
Nesta imensa
Sacada,
Aos pés de Deus!
.................

...-Com sua licença!




Petrópolis,4/4/90- 4ª feira
Poema 42 , in “ Poemas dum Diário Inacabado”

sexta-feira, 11 de maio de 2007

MÃE

MÃE

Reclinado em teu colo, olhei meu rosto
Refletido em anseios de esperança
E nos afagos meigos de criança
Senti o relampejo do sol posto.

Foi um clarão intenso ali reposto,
Que a luz do sol caída não avança,
´stilhaça-se em fiapos a ver se alcança
O teu olhar fulgente a que me encosto.

Deixei os devaneios no seu canto,
À luz do sol mortiço a clarear
Meus sonhos de menino a acalentar

Canções de ti ouvidas no acalanto
Dum amor tão sentido em meu ninar!
...é o que resta, ó mãe, a te ofertar!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

POEMA 47

Poema 47

Ainda
Que alguma vez digas:
-Sou eu!
Não te fustigas
Por dizeres absolutamente
Tudo.
-Luz infinda
Só do céu
E, por mais que o persigas,
Continuarás incoerente
E mudo.


In “Poemas dum Diário Inacabado”

quinta-feira, 3 de maio de 2007

JÁ NÃO RECEBO CARTAS DOS MEUS PAIS

Já não recebo cartas dos meus pais

Já não recebo cartas dos meus pais
Como antigamente recebia.
Eles não me escrevem mais
Nem mandam a outrem que o faça
Segundo o costume que havia,
( até perdeu a graça)
Mesmo porque não há ninguém
Mais capaz de ditar uma carta
Igual à que o meu pai ditava
Porque só ele é quem sabia
Como uma carta se escrevia
E o teor que a carta comportava.

Com palavras e frases sentimentais
Entremeadas de substantivos e verbos e adjetivos
E nomes e pronomes próprios e comuns
E toda a pontuação complicada
De pontos e vírgulas e exclamações
( eram traços de soluços envoltos
na saudade dos corações)
e todos os sinais gramaticais
e consoantes abertas e mudas
e todas as vogais sonoras ou sisudas
e muito mais...muito mais

Como tudo passou!
É verdade
Sempre restou
A saudade!

Cada carta
Além do invólucro
E do papel
E do selo
E do carimbo
E do lacre
( conforme a exigência e o segredo)
carregava
a forte evocação
de ler e reler
o escrito.

Toda aquela
Escrita
Era um ritual,
Uma fartura
De saber
E cultura.
Tudo está proscrito,
Em desuso.
Talvez,
O mundo, cada vez,
É mais confuso.
Não há mais lareira
Àquela igual
Da mesma maneira,
Nas aldeias de Portugal.
Não há mais candeeiros de petróleo,
Nem luz de azeite da candeia
Ou do lampião,
Não há,não.
Nem serão
Ao luar da lua cheia
Na solidão
Pacata
Da minha aldeia.


A solidão
Mata.
A ilusão
Só maltrata.

É que a minha aldeia,
A minha, aquela
Que é minha
Porque eu sou dela,
Apesar de tudo
Ainda existe.
Quem partiu,
Fui eu.
Quem não existe mais
E nem mais me escreve
Cartas como dantes fazia,
São os meus pais.
Até breve!
Até um dia!
Até mais!
Adeus!
Saudade!









S.Paulo-14/11/01 –4ª feira- 16h

In Poemas dum fazer desfeito- Livro I
vasco dos santos