quinta-feira, 19 de julho de 2007

Canto I

O náufrago solitário
Encontrou a porta do mar aberta
E, por uma nesga de luz,
Redescobriu o caminho perdido
E reencetou a caminhada
No rumo certo e seguro
Que o conduz
Após tão longa jornada.

É aqui, disse,
E adormeceu
Na areia branca de espuma,
Certo de que merecia
Bom descanso
Naquele remanso
De sonhos e fantasia.

Como são os caminhos do mar!
Cheios de medos e mistérios
De intensa e densa poesia
E quanta coisa pra contar!

Tanta onda e balanço,
Tanto navegar sem descanso,
Tanto mar, tanta bravura,
Bendito seja o remanso
No clarear da n oite escura!

É aqui, tudo o mais
À beira dum cais
Se arruma,
Porque o oceano, quando quer,
Transforma qualquer barco em escaler
E alija a carga ao mar.

Exausto,
Pelo tempo no mar havido.
Enterrou-se num sono profundo,
Dando tempo a que o mar
Fosse e voltasse
E desse a volta ao mundo
E, de novo, o reencontrasse.

Está nu e só,
Como convém,
Neste encontro do reencontrado,
Dormindo a sono solto.
Porém,
Nas areias da praia do mar salgado,
Estando vivo,
Parecia morto,
Dormindo,
Estava acordado.

Carregado de sal e de agonia,
Apesar de tudo,
Continuava mudo
E o mar bravio
Não o sabia.

O silêncio do mar salgado
Estruge em ecos soturnos
Nos brados do mar irado
Com uivos de lobos noturnos.

E as ondas do mar,
Entretidas na refrega
Das lutas
E disputas
Com o mar das ondas bravas,
Com as ondas bravas do mar,
Ecoam aos seus ouvidos,
Em cantigas doces de ninar,
Em lamúrias amargas de chorar,
Em soluços consentidos
Nas águas salgadas do mar
Do mar de tantos gemido.

-Coisas loucas de contar
Que fazem as lágrimas secar
E me fazem perder os sentidos!


In “ O Silêncio do Mar Salgado

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