Mãe-Preta
Mãe-Preta
Da cor-amor,
Aroma-perfume,
Sem ódio e queixume.
Amamentas,
De peito aberto,
No acalanto
Das esperanças
Que amas tanto.
Os teus seios formam pão e fermento
Que permitiram o bom cozimento
Da nova raça amalgamada
Nos trópicos.
Ai, tanta dor,
Tanto sofrimento,
Ai, tanto amor
Desta realidade sonhada
E benditos sejam todos estes sonhos utópicos.
Receptáculo de vida no próprio ventre
Onde agasalhastes o fruto
Bendito dum amor acalentado
Produto
( quantas vezes)
Do vilipêndio e do pecado.
Ama e aia
( que guardou no segredo sob a saia
Filhos de amos e senhores)
Que testemunhava o amor oculto consentido
Que, por todos, deste o sangue e a vida
E os tornastes livres para que livremente vivessem
E construíssem a Pátria do futuro
No amor acrisolado,
Eivado de sonhos utópicos,
Tão lindo e tão puro,
Haverá de ser eternamente lembrado.
Mais forte que a rocha em que te imortalizaram o ser,
És perene e eterna como a pedra em que te moldaram o corpo,
Te esculpiram a face mas te deixaram a alma liberta
Que essa subsiste a todas as escravidões e grilhões e peias
E guarda a chama da liberdade sempre alerta.
As almas são sempre livres porque eternas e imortais
E não há força que lhes pode as asas
E as impeça de alcançar os umbrais
Da predestinação eterna.
Mãe-Preta dos negros da cor do café,
Mãe-Preta dos brancos da alvura do pão,
Mãe-Preta dos mulatos da cor do chão,
Mãe-Preta de todos que alimentastes
Nas tetas retesadas do teu peito ardente,
Mãe-Preta de nós e de toda a gente!
Mãe-Preta , obrigado porque ficastes.
In “ O Livro das Horas” vasco Alentejano
O tempo e a memória
O tempo e a memória
Só fazem história
Revivendo-se no ontem eu já passou.
Sob os olhos perscrutadores
Que rasgam a lembrança
Até a esperança
Que veio e foi
Se acabou.
In “ O Livro das Horas”
Vasco Alentejano