domingo, 6 de fevereiro de 2011

Mãe-Preta

Mãe-Preta

Da cor-amor,

Aroma-perfume,

Sem ódio e queixume.

Amamentas,

De peito aberto,

No acalanto

Das esperanças

Que amas tanto.

Os teus seios formam pão e fermento

Que permitiram o bom cozimento

Da nova raça amalgamada

Nos trópicos.

Ai, tanta dor,

Tanto sofrimento,

Ai, tanto amor

Desta realidade sonhada

E benditos sejam todos estes sonhos utópicos.

Receptáculo de vida no próprio ventre

Onde agasalhastes o fruto

Bendito dum amor acalentado

Produto

( quantas vezes)

Do vilipêndio e do pecado.

Ama e aia

( que guardou no segredo sob a saia

Filhos de amos e senhores)

Que testemunhava o amor oculto consentido

Que, por todos, deste o sangue e a vida

E os tornastes livres para que livremente vivessem

E construíssem a Pátria do futuro

No amor acrisolado,

Eivado de sonhos utópicos,

Tão lindo e tão puro,

Haverá de ser eternamente lembrado.

Mais forte que a rocha em que te imortalizaram o ser,

És perene e eterna como a pedra em que te moldaram o corpo,

Te esculpiram a face mas te deixaram a alma liberta

Que essa subsiste a todas as escravidões e grilhões e peias

E guarda a chama da liberdade sempre alerta.

As almas são sempre livres porque eternas e imortais

E não há força que lhes pode as asas

E as impeça de alcançar os umbrais

Da predestinação eterna.

Mãe-Preta dos negros da cor do café,

Mãe-Preta dos brancos da alvura do pão,

Mãe-Preta dos mulatos da cor do chão,

Mãe-Preta de todos que alimentastes

Nas tetas retesadas do teu peito ardente,

Mãe-Preta de nós e de toda a gente!

Mãe-Preta , obrigado porque ficastes.

In “ O Livro das Horas” vasco Alentejano

O tempo e a memória

O tempo e a memória

Só fazem história

Revivendo-se no ontem eu já passou.

Sob os olhos perscrutadores

Que rasgam a lembrança

Até a esperança

Que veio e foi

Se acabou.

In “ O Livro das Horas”

Vasco Alentejano